quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nathanael Sampaio

Diário de Campo-Primeiro dia

        Fiquei muito ansioso para conhecer Aldeia Maracanã, já que havia acompanhado de “perto” (através das redes sociais, jornais, sites, TV) toda a situação da desocupação e não pude comparecer presencialmente à Aldeia nesse período. E com o desenrolar dos acontecimentos do mês de junho, tive a oportunidade de filmar um dos índios da Aldeia no protesto do dia 26/06/2013 e ele em especial parecia determinado e seguro da retomada do espaço que lhes foi tirado de forma abrupta e inconsequente. O que aconteceu logo em seguida, os índios voltaram e com eles vários apoiadores. O que mais me surpreendeu foi a quantidade de pessoa que estavam ali lutando pela causa indígena e também o rodizio que eles fazem para garantir que sempre fique um grupo na Aldeia. Além de resistência cultural, a ocupação daquele espaço proporciona visibilidade e provoca um governo que em nome do capital os querem longe dali. Apesar de já estar no Rio a 1 ano e meio, o meu primeiro contato com o estádio do Maracanã ocorreu no mesmo dia da visita como pesquisador e puder constatar a diferença de tratamento dispensado ao estádio e a Aldeia.
        Antes de chegar à Aldeia, procurei não idealizar nada e nem supor nada. No contato com as pessoas que circulavam pelo local notei um certo estranhamento deles para com a minha pessoa, talvez pelas minha feições totalmente indígenas, mas uma grande simpatia dos índios comigo, principalmente Potira, esposa de José Guajajara, que se formou em Letras pela UFRJ e faz mestrado em linguística também na UFRJ. O prédio onde eles vivem está em avançado estado de decomposição, eles só tem um refletor que garante toda a iluminação do casarão e uma torneira para todos. Fiquei pensado em como conseguiam viver daquela forma e me senti um pouco triste de não poder fazer nada mais efetivo e participativo do que ficar postando algum assunto relacionado à causa indígena nas redes sociais. Conversamos com duas estudantes: uma da UFF e a outra da UFRJ. Elas não nos deixam filmá-las, percebo que elas não nos dão muita atenção parecem não acreditar que nosso trabalho é sério e comprometido com essa modificação que é trazer os povos indígenas à vida urbana. Quando vamos tentar falar com José somos um pouco insistentes e vejo que ele se incomoda, a mesma desconfiança das meninas. Mesmo assim ele conversa conosco e parece um pouco cansado daquela lutar mas sabe que tem que permanecer firme, ele ao que parece é o índio mais velho na Aldeia e tenta dar o exemplo. Conversamos uns 40 minutos intercalando suas falas com às minhas e de Filipe e noto que ele já começa a nos ouvir com mais atenção e com frequência nos interrompe para nos dizer sua impressão.
        Saímos da Aldeia e fico com a certeza de estar no lugar certo e fazendo justamente a coisa certa. O que mais me incomodou foi a desconfiança de todos e o incomodo que a população flutuante sentiu com minha presença. A desconfiança tivemos que ser pacientes e tentar aos poucos mostrar a seriedade do trabalho. Já o incomodo pelo menos hoje permaneceu, quem sabe ao longo das próximas visitas ele comece a se desfazer. Pode ter haver com a idealização errada das pessoas sobre o indígena e o fato de na mente das pessoas, o índio se encontrar estagnado no tempo. Mas a verdade é que ele merece estar aqui tanto quanto qualquer pessoa.              

                                

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