Nathanael
Sampaio
Diário
de Campo-Primeiro dia
Fiquei muito ansioso para conhecer
Aldeia Maracanã, já que havia acompanhado de “perto” (através das redes
sociais, jornais, sites, TV) toda a situação da desocupação e não pude
comparecer presencialmente à Aldeia nesse período. E com o desenrolar dos
acontecimentos do mês de junho, tive a oportunidade de filmar um dos índios da
Aldeia no protesto do dia 26/06/2013 e ele em especial parecia determinado e
seguro da retomada do espaço que lhes foi tirado de forma abrupta e
inconsequente. O que aconteceu logo em seguida, os índios voltaram e com eles
vários apoiadores. O que mais me surpreendeu foi a quantidade de pessoa que
estavam ali lutando pela causa indígena e também o rodizio que eles fazem para
garantir que sempre fique um grupo na Aldeia. Além de resistência cultural, a
ocupação daquele espaço proporciona visibilidade e provoca um governo que em
nome do capital os querem longe dali. Apesar de já estar no Rio a 1 ano e meio,
o meu primeiro contato com o estádio do Maracanã ocorreu no mesmo dia da visita
como pesquisador e puder constatar a diferença de tratamento dispensado ao
estádio e a Aldeia.
Antes de chegar à Aldeia, procurei não
idealizar nada e nem supor nada. No contato com as pessoas que circulavam pelo
local notei um certo estranhamento deles para com a minha pessoa, talvez pelas
minha feições totalmente indígenas, mas uma grande simpatia dos índios comigo,
principalmente Potira, esposa de José Guajajara, que se formou em Letras pela
UFRJ e faz mestrado em linguística também na UFRJ. O prédio onde eles vivem
está em avançado estado de decomposição, eles só tem um refletor que garante
toda a iluminação do casarão e uma torneira para todos. Fiquei pensado em como
conseguiam viver daquela forma e me senti um pouco triste de não poder fazer
nada mais efetivo e participativo do que ficar postando algum assunto
relacionado à causa indígena nas redes sociais. Conversamos com duas
estudantes: uma da UFF e a outra da UFRJ. Elas não nos deixam filmá-las,
percebo que elas não nos dão muita atenção parecem não acreditar que nosso
trabalho é sério e comprometido com essa modificação que é trazer os povos
indígenas à vida urbana. Quando vamos tentar falar com José somos um pouco
insistentes e vejo que ele se incomoda, a mesma desconfiança das meninas. Mesmo
assim ele conversa conosco e parece um pouco cansado daquela lutar mas sabe que
tem que permanecer firme, ele ao que parece é o índio mais velho na Aldeia e
tenta dar o exemplo. Conversamos uns 40 minutos intercalando suas falas com às
minhas e de Filipe e noto que ele já começa a nos ouvir com mais atenção e com
frequência nos interrompe para nos dizer sua impressão.
Saímos da Aldeia e fico com a certeza
de estar no lugar certo e fazendo justamente a coisa certa. O que mais me
incomodou foi a desconfiança de todos e o incomodo que a população flutuante
sentiu com minha presença. A desconfiança tivemos que ser pacientes e tentar
aos poucos mostrar a seriedade do trabalho. Já o incomodo pelo menos hoje
permaneceu, quem sabe ao longo das próximas visitas ele comece a se desfazer.
Pode ter haver com a idealização errada das pessoas sobre o indígena e o fato
de na mente das pessoas, o índio se encontrar estagnado no tempo. Mas a verdade
é que ele merece estar aqui tanto quanto qualquer pessoa.
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